Só depois da pinga...

quinta-feira, agosto 24, 2006

"Desembarque pelo lado esquerdo do trem"


Estação Sé

Que me faz correr, mas não me deixa alcançar
Que me faz perder a paciência
Que me deixa esperando
Que com raiva me deixa
Que é linda, mesmo com todos seus defeitos, exageros e deficiências
Que já faz parte de mim
Que é cheia de história
Que me conquistou sem me dar escolhas
Que trouxe a poesia de volta
Que me faz enxergar poesia
Que é poesia
Que é fria e cheia de calor, tudo ao mesmo tempo
Que dá amor a quem escolhe
Que intervém no meu caminho
Que me empurra, me explusa e me atrai
Que é indiferente
Que finge se importar
Que ama todos
Que me obriga a ir embora, mas que sempre me faz voltar
Que é cheia de tanta gente, cheia de gente
Que não te ouve no barulho
Que não te ouve por mais de uns minutos
Que não te vê
E que só vai deixar de fazer parte dos meus dias, das minas noites,
o dia em que eu pegar outra linha, que não cruze mais com Sé,
e me deixar apaixonar por outra estação.

terça-feira, agosto 22, 2006

eu nunca choro nas ocasiões mais óbvias, e choro nas mais improváveis.
eu não chorei quando vi meu sobrinho pela primeira vez, tão pequeno, nos braços da minha irmã no aeroporto, apesar de emocionadíssima. mas eu chorei vendo ela preparar uma das milhares mamadeiras que ele tomava.
eu chorei muitas vezes porque eu queria ir pra escola como meus irmão e minha mãe não tinha me matriculado ainda. eu tinha três anos.
eu chorei na minha festa de formatura, e não foi de muita felicidade.
eu não chorei no casamento do meu irmão. nem fazendo minha tatuagem.
eu terminei um namoro sem chorar. e dei um tempo chorando muito.
eu chorei quando me perdi no supermercado, quando recebi declarações inesperadas que, pra mim, mais verdadeiras e valiosas.
eu já chorei no quarto a noite sem mtivo nenhum, varias vezes por sinal, e é muito bom pegar no sono assim, a gente fica mais leve.
eu já chorei demais nas despedidas de viagens, como se nunca mais fosse ver nenhuma daquelas pessoas, mesmo sabendo que nas próximas férias eu estaria lá de novo. E não chorei na última vez que fui, mesmo sabendo que dificilmente voltarei lá.
eu já chorei sozinha num quarto, de frente pra um computador, mas chorei pouquíssimo na frente de outras pessoas...
o óbvio não me comove muito, o surpreendente me encanta.

sexta-feira, agosto 11, 2006

Marisa Monte,
com seu universo,
faz a vida mais leve,
a alma mais calma,
a tarde mais curta,
a paz mais próxima...
Faz as coisas melhorarem,
mesmo sem fazer nada...

sexta-feira, agosto 04, 2006

cenas

No sofá vendo tv. ele sentado num canto e ela deitada em seu colo. Não conversam, não se olham. Simplesmente assistem. A única coisa que os liga é ele mexendo calmamente no longo cabela dela. Não pensam na vida e nem em tudo que aconteceu antes daquele momento.
Simplesmente estão juntos, estão em paz. Tudo o que foi dito, o que foi feito, o que foi falado para conseguirem estar ali está esquecido, deletado. Eles não têm nada para fazer, e era justamente isso que queriam. É a primeira vez que se vêm daquele jeito, não tem gente em volta, não precisam ir embora logo, não tem flagra iminente, está tudo bem. Simplesmente resolvido. Simplesmente declarado.
Simples assim...

ver essa cena me fez parecer tão fácil...

quinta-feira, agosto 03, 2006

Tá, eu sei. A idéia original era de colocar fotos belas, de preferência acompanhadas de belas palavras. E eu sei também. Eu só tenho colocado textos dos outros e fotos que não foram tiradas por mim, mas parece que, nesses últimos tempos, só me identifico (e olhe lá) nos dizeres e pensares alheios.
Não. Eu não estou dando satisfações, não me agrada esse tipo de atitude, e quem me conhece sabe que são poucas as coisas que eu faço por obrigação, ou por achar que é o que os outros esperam de mim. Só estou contando.
Eu sempre gostei de escrever, sempre foi sinônimo de idéias em ordem. A vontade vinha do nada, e eu escrevia fácil, só pra colocar tudo pra fora em palavras. Era ótimo, tudo ficava claro, reto, pontuado.
Mas idéia clara tá rara. Tá tudo embaralhado. Tá sobrando frio na barriga, mas faltando atitudes definitivas. Palavras encantam, envolvem, mas não enganam. Silêncios chateiam, cansam, mas também confortam. Dúvidas desnorteiam, dissolvem, mas também dizem muito.
Eu sei o que eu quero, sei o que tem feito me dar taquicardia e sei o que me faria jogar tudo pro alto. E o pior é que são poucas palavras, ditas pela pessoa certa. Mas se ela não disser, eu também não vou pedir. Não sei pedir. Esse é outro item que há veio de fábrica.
Não quero esperar a poeira baixar, isso não tem a mínima graça. Minha infantilidade se reveza com minha serenidade. E as vezes fica muito claro que tudo vai se resolver, vem aquela história do dar tempo ao tempo e ela me perece bem razoável. Mas de uma hora pra outra passo a achar uma chatice, um tédio ver a vida e seus momentos passarem só pra evitar maiores sofrimentos.
Estou inconstante, e acho que é por isso que tenho achado as certezas dos outros tão interessante. Quem sabe nelas encontro algumas minhas.

Papéis

O teatro mágico é o teatro do nosso interior...
a história que contamos todos os dias
e ainda não nos demos conta...
.
as escolhas que fazemos em busca dos melhores atos,
dos melhores sabores,das melhores melodias
e dos melhores personagens
.
que nos compõem,
as peças que encenamos
e aquelas que nos encerram......
.
nosso roteiro imaginário é a maneira improvisada de viver a vida...
de sobreviver o dia, de ressaltar os tombos e relançar as idéias,
o teatro nosso de cada dia...